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  • Foto do escritorBruna Alves

Por que sumi? Por que voltei? Por que continuar escrevendo?

Atualizado: 31 de dez. de 2023

Você deve ter notado que fiquei um bom tempo sem escrever por aqui especialmente nos períodos entre 2019 e 2022. Passei por aqui pouquíssimas vezes e escrevi um post ou outro, mas sem muito engajamento, sem o ritmo de antes. Cheguei até a postar sobre o quanto estava afastada do blog neste post aqui em 2020 mas mesmo assim me mantive longe. Pois é gente, foram tempos muito dificieis e sombrios que infelizmente passei e que não desejo à ninguém. Tentei diversas vezes vir aqui pra escrever sobre o que estava acontecendo, sobre como estava me sentindo mas não conseguia. Saía uma linha ou outra mas por fim apagava tudo e desligava o computador. Pensei tanto sobre isso, sabe ... acho que os meus últimos posts aqui me impulsionaram à refletir mais sobre tudo e resolvi então me abrir um pouco mais até porque esse processo de escrita de botar pra fora, pensar no que escrever, ler e reler o que escrevo funcionam como uma terapia pra mim e ajudam muito a controlar minha ansiedade, reduzir o estress e as chances de cair novamente em depressão. Sim depressão. Aquela palavra que escutamos tanto ultimamente... sofro deste mal há algum tempo, com algumas doloridas recaídas.

Ao final de 2018 eu e marido conversamos e decidimos que era o momento de voltar a falar sobre ter filhos. Esse sempre foi um plano nosso, com certeza, porém com a vinda pro Canadá tivemos que postergar um pouco mais para conseguirmos conquistar as nossas metas com mais tranquilidade por aqui. Filhos não são impeditivos, mas com certeza pudemos tomar certas decisões, salvar mais dinheiro e nos segurar em diversos momentos pelo fato de sermos somente nós. Um exemplo simples foi que ficamos aqui por quase 3 anos sem carro, e nos viramos literalmente de boa. Talvez se tivéssemos filhos, teríamos que priorizar a compra do carro de cara e já incluir essa despesa no nosso custo mensal. Tenho certeza que cada família sabe o que pode ou não abrir mão e esse é o nosso exemplo, é sobre nós e com certeza não se aplica à todos. Bom, com ele e eu empregados, pudemos então sonhar em ir para um lugar maior e em seguida tentar engravidar e assim fizemos. Com o acompanhamento da minha médica de família, parei a pílula anticonceptional no final de 2018 e logo comecei a tomar umas medicações específicas para me preparar para uma gestação. Nos mudamos para uma casa maior alugada em uma cidadezinha afastada de Toronto no início de 2019 (faço um post sobre isso em um outro momento), e quando estávamos bem acomodados e satisfeitos com o novo lar, engravidei em Abril de 2019. Foi tudo bem rápido considerando o meu quadro clínico. Tenho Polycystic ovary syndrome (PCOS) ou conhecido como Síndrome do ovário policístico (SOP) que é uma disfunção hormonal, infelizmente uma das responsáveis pela infertilidade feminina (cerca de 6 a 12% da população feminina sofrem de SOP). Pouco se fala sobre essa síndrome e eu pouco conhecia também só sei que sofri ao longo da minha vida com alterações de peso, acnes, e atrasos mentruais. Por conta disso eu achava que poderia ter problemas para engravidar, mas pra minha surpresa foi bem rápido.

Não entrarei em muitos detalhes, talvez em outro post, não sei se um dia o farei, mas infelizmente minha gravidez não foi pra frente, e descobri na ultra sonografia. Fiz duas ultras, uma na 6-7 semana e outra na 8-9 semana. Sabe aquele momento que você vai feliz, esperançosa pra ouvir o coração do seu bebezinho e não escuta nada e a assistente do local infelizmente não pode te passar qualquer informação, pois todo o resultado vai pro seu médico e ele sim entra em contato com você pra informar como as coisas estão. É assim que funciona aqui. Já saí da primeira ultra desconfiada, a médica pediu que repetisse a ultra 2-3 semanas depois. Fiz a segunda ultra às 8h da manhã, e eu sabia que tinha algo errado, passei o dia inteiro sofrendo com isso, não trabalhei praticamente o dia inteiro e somente as 6pm da noite a médica me ligou informando que infelizmente o bebezinho não havia progredido. Não havia batimento cardíaco. Neste momento, o chão se abre e não sei descrever em palavras a dor, o sofrimento ao saber que não seríamos mais pais e toda a dor e sofrimento no processo para retirar o meu bebê que aconteceu em julho de 2019 (passei por um aborto forçado em casa e depois ainda tive que fazer a D&C, a curetagem). Eu busquei respostas, ajuda, orei, pedi tanto à Deus para me explicar ou me dar razões para aquilo que eu estava passando, mas não as tive, infelizmente.

Neste meio tempo ainda passei por 2 cirurgias, uma para a retirada da minha vesícula em novembro de 2019 e em janeiro de 2020 uma operação na gengiva por conta do meu desvio de bucomaxilo que estava repuxando e recuando a gengiva em um dente inferior. E assim fechei o meu 2019 e iniciei o meu 2020, bom ne?

Depois de alguns meses, emocionalmente um pouco mais forte, tentamos novamente e conseguimos engravidar em Maio de 2020. Desta vez, estávamos em plena pandemia, o que impactou o processo já que o meu marido não poderia me acompanhar nas ultras e tentamos não gerar tanta expectativa, por conta do que havíamos passado em 2019. Evitamos abrir pra muita gente, somente para as pessoas mais próximas mesmo, mas infelizmente o bebezinho também não progrediu e me vi novamente na mesma situação passando pelo processo da perda, porém de forma mais rápida já que exigi que fosse direto para a operação D&C e não passasse pelo sofrimento de abortar em casa. O médico então liberou que fosse feito dessa forma por ser a minha segunda perda e também pela minha idade. Fiz alguns exames, possíveis pós segunda perda, como por exemplo, saber se tinha trombofilia, contagens de óvulos, espermograma, e todos eles deram normais, dentro das expectativas. Detalhe, o exame para saber se temos incompatilidade genética ou cromossômica, não sei o nome, só pode ser feito a partir da terceira perda. Acredita nisso? Pois é. Você pode ter a grana que for, que o sistema de saúde aqui não funciona assim. Não posso determinar o que eu posso ou não fazer, como a saúde é gratuita, somente com o acompanhamento médico de família baseado na criticidade e estatística. Mesmo ter passado por tudo isso, por toda a dor, sou considerada dentro das estatísticas da medicina. Ou seja, não havia novamente respostas para a perda e acho, sendo muito honesta que nunca as terei. Eu sabia que a PSO poderia ser um dos fatores de não consegui manter os meus bebês, por conta da disfunção hormonal, fundamental para o crescimento do bebê quanto para o desenvolvimento uterino, os médicos também levam isso em consideração, porém afirmar 100% a causa eles não afirmam. Me vi novamente em um buraco profundo, dessa vez mais embaixo ainda. As esperanças se esvairecem, não há motivos para alegrias, para sorrir. Me vi em uma depressão profunda, chorei muito, posso dizer que a dor verdadeira, somente o meu marido presenciou, pois não abri realmente pra ninguém. As pessoas viam uma mulher forte, levantando de mais um tombo, porque sempre fui assim, mas estava completamente derrotada. E como sair disso?

É preciso muita força, muita fé, para acreditar que dias melhores virão, e acreditar que foi Deus nos livrando de algo mais dolorido, ou talvez que este não seja realmente os planos de Deus em nossas vidas, e nosso propósito aqui talvez seja outro, não sei. Estou em processo de superar tudo isso, como falei no post aqui, tive uma crise braba em 2022 que foi bem punk e pela primeira vez pensei na morte como algo para silenciar toda a dor que eu estava passando. Conversei isso com meu marido, com uma amiga e minha terapeuta - é muito díficil falar sobre isso, mas é necessário. Imagino quantas pessoas estejam passando por isso e não tenham com quem falar ou quem as confortar. É tão difícil que por mais que você queira conversar com sua família, ou suas amigas, pelo fato deles não terem passado por isso eles não sabem o que dizer, ou como te acolher. Não os culpo, eles doam o que podem e fazem o melhor que podem - recebo de coração, e tem horas que realmente prefiro ficar quietinha, sofrer calada, pois o processo é realmente meu e interno. Como mencionei no post, somente EU tenho o poder de calar essa dor. A dor de tudo ainda está aqui, estou em processo, tentanto seguir em frente, respeitando cada vez mais a minha dor e à mim. Leva tempo .... acho que chegarei um dia à um patamar aonde aceitarei e compreenderei tudo isso, mas tenho a certeza que jamais esquecerei. Acho que é impossível passar uma borracha e apagar. Isso fez e faz parte de mim, parte do meu crescimento, me tornei mais forte ainda e basta apenas fechar os olhos que eu lembro de tudo, tudo o que passei e todo o sentimento vem à tona. A gente vai aprendendo a conviver e a se reerguer mais rápido toda vez que voltamos no tempo ou fechamos os nossos olhos, a gente vai e volta mais rápido, mesmo que ainda doa muito.

Estar de volta aqui escrevendo novamente significa demais pra mim. Escrever é algo que curto muito e me faz sair do meu corpo e a ouvir o que estou contando. Eu converso comigo mesma e isso é muito gostoso.

Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. 2 Coríntios 3:18

Não sei se algum dia alguém chegará a ler este post. Poder ser que ninguém leia, e tá tudo bem. Se este não é o seu caso, se você chegou aqui e conseguiu ler todo este relato, obrigada. Obrigada por ler um pouco sobre minha história. Eu, Bruna, escrevi, já li e reli e me conforta saber que consegui colocar pra fora um pouco dos meus sentimentos e do que vivi. Me conforta ter este texto aqui, para que eu possa voltar e ler quando eu precisar e a cada leitura poder lembrar do quanto eu fui e sou forte e do quanto cresci com tudo isso. Obrigada Deus!

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